Três horas após o prazo para se entregar, Lula não é nem procurado, nem foragido — e muito menos preso =

Nem preso, nem procurado, nem foragido. É nesta condição que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está com a prisão decretada desde ontem, tornou-se objeto de uma romaria na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista, seu berço político.

Lula aguarda no local enquanto seus advogados e a Polícia Federal estão negociando um acordo com os termos de como e onde vai se entregar para o início do cumprimento da pena de 12 anos e um mês de prisão, em Curitiba.

Por volta das 17h, quando caducou o prazo dado pelo juiz Sergio Moro para que o petista se entregasse à PF em Curitiba, explodiu dentro e fora do sindicato uma batucada e uma onda de gritos "não vai ter arrego" de seus apoiadores.



Stringer / Reuters

Lula, numa janela do prédio do Sindicato dos Metalúrgicos, acena para apoiadores.

"Não estamos descumprindo a lei, mas não espere que entremos no brete, com a cabeça baixa, como gado que vai ser abatido", disse a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR). A assessoria de Moro confirmou que Lula não é considerado foragido.

Nesse quadro de indefinição quanto ao desfecho, Lula desistiu — pelo menos hoje — de discursar para a massa de apoiadores que cresce desde a tarde desta sexta-feira.

No início da tarde, Luiz Marinho, chefe do PT paulista e amigo próximo de Lula, havia anunciado que o ex-presidente falaria para a multidão.

Para uma parte da militância petista, o melhor cenário seria que agentes da PF fossem ao sindicato para que Lula se entregasse nos braços da multidão. Isso renderia fotos para reforçar a narrativa martelada pelos dirigentes do PT e de partidos de esquerda de que Lula é vítima de perseguição.



Stringer / Reuters

Manifestantes em frente ao sindicato.

Há um rumor corrente que advogados de Lula teriam oferecido para entregá-lo à PF em São Paulo na manhã da próxima segunda, mas isso não foi confirmado até as 20h desta sexta. Enquanto nada se define, Lula vai ficando no sindicato, segundo dirigentes e congressistas do PT ouvidos pelo BuzzFeed News.
Lula no sindicato

Lula chegou ao Sindicato dos Metalúrgicos na noite de quinta, cerca de duas horas depois que o juiz Sergio Moro decretou sua prisão.

Na noite e durante a madrugada desta sexta, o local se tornou ponto de peregrinação de militantes de partidos de esquerda e de movimentos sociais. Os metalúrgicos — os donos da casa — pareciam em menor número.

Pela manhã, uma multidão de algumas centenas de pessoas começou a se aglomerar na rua em frente ao sindicato. Uma outra parte foi tomando o interior do prédio de quatro andares.

Lula, confinado no segundo andar, não deixou o prédio. Numa sala à qual só tinham acesso líderes do PT e do movimento sindical, o ex-presidente foi recebendo a solidariedade de aliados.
Apelos à desobediência e batucada

Do lado de fora, os manifestantes só cresceram significativamente em número na tarde de sexta. Num carro de som em frente ao sindicato, o tom do discurso dos oradores era invariavelmente de queixa contra a "injustiça" e "perseguição" contra o petista.

Em alguns casos, houve apelos a que o petista resistisse à prisão, ao que a massa respondia com ovação. Mas ninguém da entourage do ex-presidente, principalmente seus advogados, deu declarações nesse sentido.

Fundadora do PT ao lado de Lula, a deputada Luiza Erundina, agora no PSol, realizou um dos discursos mais aplaudidos à tarde ao dizer que Lula sofria perseguição por "ser nordestino".


"Lula ousou conquistar o maior poder da República, conquistou uma vez, conquistou duas vezes, e fez o melhor governo que este país já teve", declarou a ex-colega de partido.
Sobrou até para o Sílvio Santos

Houve episódios de hostilidade à imprensa. Do lado de dentro do sindicato, repórteres de TV eram alvos de gritos de golpista sempre que tentavam entrar ao vivo da área reservada aos jornalistas, no terceiro andar.



Alexandre Aragão / BuzzFeed News

Os gritos nem eram voltados apenas à Globo, tradicional alvo dos manifestantes de esquerda. Quando uma repórter do SBT tentava falar, foi interrompida por gritos de "O Sílvio é golpista".

O episódio mais sério ocorreu do lado de fora. Um carro da reportagem da BandNews foi atacado e teve um vidro quebrado. Os ocupantes não ficaram feridos.

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